O futuro da humanidade está em África. Esta que pode parecer apenas uma afirmação bombástica baseia-se nos factos e nos números. Dentro de algumas décadas, o continente terá mais de
50 por cento de todas as crianças, com menos de 15 anos, existentes no mundo.
Mas África é também um continente que enfrenta enormes desafios. O emprego e a habitação são dois dos problemas mais prementes. Há, no entanto, outro que se sobrepõe a todos, o da segurança alimentar.
A necessidade de se alcançar a segurança alimentar é transversal a todo o continente e tem repercussão em todos os aspectos da vida, incluindo na protecção das florestas tropicais, porque terras mais produtivas eliminam a necessidade de desmatação.
Veja-se o caso do Senegal. Durante a covid-19, o país teve uma grande escassez de alimentos, porque importa 70% do arroz e 100% do trigo que consome. Até os legumes são importados, e, quando o tráfego aéreo parou, a distribuição alimentar colapsou.
Em conjunto com o governo senegalês, estão neste momento a ser construídos agropólos, através de uma parceria público-privada. Constroem-se todas as infra-estruturas, não por ordem de importância, mas tudo: a refrigeração, o armazenamento, os matadouros. Estão a ser criados frangos e produzidos produtos lácteos, e prepara-se a terra para que o sector privado possa cultivar milho e arroz e outros produtos que ajudarão a economia. Este é um projecto gigantesco, mas com um conceito fundamental: o da auto-sustentabilidade em termos de produção alimentar, segurança alimentar e capacidade de criar empregos na agricultura.
A agricultura em África sofre de problemas graves. A produção e os rendimentos são muito baixos, devido, entre outras razões, a maquinaria antiga e ultrapassada, falta de soluções logísticas suficientes, falta de irrigação inteligente, má fertilização, falta de formação na utilização das sementes certas, metodologias actualizadas e muito mais.
Os líderes africanos estão determinados a resolver o desafio da segurança alimentar e estão a alocar 10% do PIB ao sector da agricultura. Estes investimentos precisam de se concentrar na implementação de soluções baseadas na tecnologia e orientadas para a inovação, podendo duplicar e até triplicar os rendimentos. Alguns exemplos são: a produção de milho por hectare, em Israel, é a mais elevada do mundo e é mais de 3 vezes superior à do segundo país (Chile). As novas técnicas de cultivo intensivo para a pesca duplicam e triplicam a produção em relação às técnicas de cultivo tradicionais.
A irrigação inteligente pode poupar água preciosa e duplicar as colheitas. A reciclagem de águas residuais tratadas pode ser reutilizada na agricultura, como é o caso de Israel, em que cerca de 85% das águas residuais são recicladas desta forma.
A África tem hoje cerca de 65% da área arável mundial. Os governos em África devem estar empenhados em resolver os tremendos desafios que se avizinham. Apelo, por isso, a que incorporem a inovação em tudo o que fazem. Se assim for, África pode alimentar-se a si própria. Mas, além disso, África será capaz de alimentar o mundo.
Artigo escrito por Yaron Tchwella, CEO do Grupo Mitrelli, publicado na Forbes Africa Lusófona